Dados de preços ao produtor mostram que o setor de alimentação fora do lar sofre com aumentos em insumos essenciais
A alta nos preços da carne bovina e da energia elétrica já está impactando significativamente o setor de alimentação fora do lar. De acordo com dados divulgados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) subiu 1,34% em outubro, acelerando em relação à alta de 0,18% registrada no mês anterior. Com esse resultado, o índice acumula aumento de 3,91% no ano e de 5,10% nos últimos 12 meses.
Além disso, informações do Cepea/USP indicam que o preço do boi gordo acumulou uma alta de quase 20% até a primeira metade de outubro de 2024, em comparação ao valor que encerrou 2023. Esse aumento expressivo é atribuído à menor oferta de animais para abate e ao aquecimento do consumo de carne bovina, tanto no mercado interno quanto no externo.
A taxa do grupo Matérias-Primas Brutas no IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo), também medido pela FGV, passou de -0,86% em setembro para 3,94% em outubro. As principais contribuições para a aceleração desse grupo partiram dos itens: minério de ferro (de -8,41% para 1,84%), soja em grão (de -0,99% para 6,58%) e bovinos (de 2,83% para 8,36%).
"A aceleração do IPA foi impulsionada pelos produtos agropecuários, que continuam a sofrer os efeitos da seca. No lado do consumidor, o acionamento da bandeira vermelha patamar 2, vigente desde o início de outubro, provocou um aumento nas tarifas de energia elétrica, fator crucial para a elevação do IPC" , destaca Matheus Dias, economista do FGV IBRE.
Ele acrescenta que "na construção civil, a alta registrada refletiu principalmente o aumento nos preços de materiais, equipamentos e serviços".
Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, registra que “em diversas regiões do país, os preços da carne bovina nos fornecedores já registram aumento significativo. Há relatos de aumento de até 20% no preço do filé mignon em alguns estados".
"Esse cenário tem levado a uma elevação nos custos operacionais dos bares e restaurantes, que enfrentam dificuldades para repassar esses aumentos aos consumidores sem comprometer a demanda”, afirma.
O aumento no preço da energia também traz preocupação, segundo o presidente da Abrasel. “É um insumo essencial, as cozinhas estão cada vez mais dependentes de energia elétrica, não só para refrigeração, mas também para o preparo dos alimentos. Neste cenário, nos causou muita estranheza a decisão do governo de adiar a discussão sobre a volta do horário de verão para o ano que vem".
"Segundo estudos do próprio governo, isto traria uma economia, ainda que pequena. E nos ajudaria do lado da demanda, com um aumento de até 50% no fim do dia, que se traduziria em um robusto incremento mensal no faturamento, de cerca de 10%. Com isso, ficou difícil de entender a decisão de não voltar com o horário de verão já este ano”, completa Solmucci.