O diretor da Unecs e presidente da Abrasel, Paulo Solmucci, concedeu entrevista ao Anuário ABAD, Solmucci onde destaca os pontos positivos da aplicação da reforma trabalhista ecritica a verticalização dos bancos. Confira:
A aprovação da reforma trabalhista promoveu profundas mudanças nas relações entre empregadores e colaboradores. Quais são, na opinião da UNECS, as mais relevantes?
A aprovação da reforma trabalhista foi uma conquista enorme da sociedade brasileira. Primeiramente, porque ela distensionou a relação patrão-empregado. A comprovação mais evidente disso é a redução drástica no número de ações trabalhistas ocorrida nos primeiros cinco, seis meses da Reforma – especialmente a queda do oportunismo, das ações com valores absurdos, de pessoas que iam, sem nenhum ônus para elas, buscar algo a que não tinham direito.
A qualidade da demanda, sendo que o valor de uma ação típica caiu de R$40 mil para R$16 mil, faz com que fique claro que não só o oportunismo deixou de ameaçar as empresas, como também a diminuição do volume e o aumento da qualidade das ações beneficiarão os trabalhadores que de fato tenham direitos, pois a Justiça será mais célere. E justiça que não é célere, não é justiça; então é um grande avanço. O crescimento do País junto da reforma e das novas modalidades de emprego – em especial o trabalho intermitente, uma pauta com DNA da UNECS, e a terceirização – trarão muitos novos empregos.
Vencida a luta pela aprovação da reforma trabalhista, quais as prioridades da UNECS?
A Unecs agora junta todas suas forças à sociedade brasileira no enfrentamento da questão que são os juros. Os juros bancários no Brasil são estratosféricos, chegam a ser sete vezes maiores do que a média mundial e entre 14 e 20 vezes maiores do que em países desenvolvidos, como Espanha, Canadá e Estados Unidos. Essa é uma questão que precisa ser enfrentada pela sociedade e a Unecs tem focado nisso. Há dois anos entramos com uma importante ação no CADE [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] questionando a verticalização dos bancos.
Os bancos no Brasil não só são concentrados em poucos, como a questão vai além: eles criaram um sistema de proteção, dominando todos os elos da cadeia, o que permite a eles escolher onde ganhar dinheiro. Isso a gente chamou de verticalização. Eles são donos da câmara de compensação, das empresas de adquirência, das empresas de seguro, e são também quem fornece a conta, cobram a tarifa etc. Essa verticalização tem impedido a concorrência que faria cair os preços do dinheiro, os juros.
A questão que se segue é que além do impedimento da verticalização que a gente espera que venha por meio do CADE – eles chamam isso de chinese wall , ou seja, um conjunto de regras que impeça essa liberdade de inibir a concorrência – nós estamos apostando que o governo, por meio do Banco Central, vai liberar os recebíveis de cartão de crédito para que eles possam ser dados em garantia não somente aos bancos, como é feito hoje, mas também a fornecedores, a fundos de investimentos, ampliando a oferta de crédito e reduzindo, portanto, o custo do dinheiro. O Brasil não pode continuar convivendo com o custo do dinheiro nas alturas porque ele contamina todos os demais preços na sociedade. Cada elo na cadeia produtiva paga essa taxa inadmissível e isso, no final das contas, representa preços elevados, população com baixo acesso a serviços de qualidade. Essa é a próxima e mais relevante bandeira da UNECS.
Hoje, quais são os maiores problemas enfrentados pelo comércio e setor de serviços?
O setor de comércio e serviços no Brasil vive, como todos os demais, num ambiente muito desfavorável para empreender. No cenário, a burocracia, um conjunto de regras muito grande, todo um aparato tributário – que não é só caro, mas também complicado, toma muito tempo para cuidar – e ainda todas as incertezas que existem em torno de regras mudando a todo momento. O que a Unecs entende é que nós precisamos simplificar o empreender no Brasil, desburocratizar e assegurar que, a partir daí, o setor e o País possam ser mais produtivos. Hoje produzimos um quinto do que produz o norte-americano – uma situação que não é sustentável. Temos que focar na simplificação e na produtividade e, com isso, promover uma melhor qualidade de vida para o brasileiro.
Fonte: Abad